Noite e Dia: Nau da Madrugada
Pedro Penido
Sempre pensei e escrevi sobre a noite e o dia. Sempre achei nestes mantos os rastros da minha incauta e insatisfeita poesia. Caminhei em estradas que lembravam fios de prata noite adentro, madrugada afora. E vesti os andrajos do andarilho para sorver os passos do caminho, os metros da estrada e, acima de tudo, sentir todos os demônios que perambulam pela madrugada.
Sempre pensei e escrevi sobre a noite e o dia. E foi nas turbulentas águas onde se encontram que ancorei minha nau enlouquecida, lançando aos ventos as cinzas do meu passado, buscando nas águas de tormenta o que, agora sei, jamais será encontrado.
Pois envelhece até mesmo o mais louco dos marujos, desbravador de todos os mares, fomentador da loucura e profanador de todos os altares. Envelhece e aprende a olhar além, na linha do horizonte, no limiar das possibilidades, ignorando a dor e o amor, ignorando orgulho e mediocridade.
E é quando o vento deixa de ser algoz e se transforma em aliado que o mergulho na vastidão escura da madrugada mais vale a pena. Porque, fato, a vida tranquila envenena e a maior brutalidade do mundo ante um olhar sem vida chega a ser obcena.
Orgulho-me de não ter vivido uma vida plena. É cedo demais para pensar nisso. Ainda é tempo de sangrar no papel e hastear fogo em versos no ardor que escorre, aos traços rasos e palavras esguias, pela pena. Ainda há tempo para fazer valer, em chamas, tudo que há no mundo real, dos sonhos, onde não se encena.
Nenhum comentário:
Postar um comentário