Sinfonia na Cidade

Sinfonia na Cidade
Pedro Penido

Mascarada nas ruas da cidade há uma sinfonia em composição. Misturando olhares de todos os povos, de todas as crenças, de todo tipo de coração. Misturando os sons enlouquecedores da incessante pressa urbana com tudo mais que se possa pensar ser possível vir da figura humana. A questão, por mais louca que pareça ser, não passa de uma das baladas que inspiram a loucura mundana.

Mascarada nas ruas da cidade há uma sinfonia tão podre quanto plena. Resultado de anos e anos dos restos que embalam o progresso e nos envenenam. Resultado de anos e anos de segredos confessos que maltratam os bons horizontes e uma farsa dantesca encenam.

Há uma sinfonia... sim... ouça o som que ecoa por entre os corredores de tempestades formados pelas fileiras de prédios amontoados. Sinta o mundo de concreto e vidro que aponta para o céu, numa vã tentativa de camuflar as intempéries da vida no caos urbano, como, convenhamos, há em tudo que é mundano.

Basta deixar seus ouvidos à mercê da cidade e a sinfonia, mascara nas ruas da cidade, apresentar-se-á em veludos e sedas douradas, com lenços escarlates e almas roubadas. Notas, letras e melodias de uma tempestade que só é vencida pelas incalculavelmente sóbrias e loucas linhas da saudade.