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segunda-feira, 20 de junho de 2011

Reflexos Ecos

Reflexos Ecos
Pedro Penido

Seriam apenas três dias... - ele pensava.

Três dias na companhia de gente que nunca viu, numa visita à cidade dos parentes de sua mulher. E já sofria por antecedência. Já pensava em inverter a ordem das coisas. Fingir uma doença ou qualquer outra desgraça que já lhe afligira no passado. Quem poderia ter dúvidas sobre sua palavra? Sua mulher!

Isso vai ser difícil... - pensava reticente, desanimado, angustiado. Viver entre pessoas já havia se transformado em uma pena, em uma lastimável necessidade ante as tentações súbitas e mortíferas da loucura. O melhor a se fazer seria encarar seus medos, enfrentar cada demônio que se escondia nas dúvidas que tinha sobre o mundo além de sua vontade, além de sua necessidade, além de sua realidade.

Não há esperança... - pensamentos milhares imersos em sua mente arrancavam-lhe o sono uma semana antes da viagem de apenas duas horas até a pequena cidade interiorana chamada Pasárgada. Aquela onde cantam os sabiás.

Impressiona como o reinado mágico e paradisíaco de alguns pode se transformar no inferno na Terra para outros. Se nos versos de Bandeira as aves que ali gorjeiam, não gorjeiam como cá, em seus pensamentos estas aves assumiram a forma e o comportamento de corvos e outros carniceiros.

Ele tentava se convencer que não havia problemas com seu receio. Havia problemas com o mundo inteiro e estes não mais cabiam em seus interesses. E chamava de hipocrisia (ou coisas piores) as necessidades protocolares da vida a dois.

Do alto de seu egoísmo, tentava mascarar o medo e o receio com vãs tentativas de ludibriar sua mente, transferindo a responsabilidade de toda aquela devastadora situação para sua mulher, que tanto insistira em tirar-lhe o "pouco tempo que resta" e "forçá-lo" a desperdiçar tão preciosos minutos na companhia de monstros que assumiram forma de gente.

Isso é paranóia! - dizia a esposa, já no limite de sua paciência.

A ele cabia apenas uma resposta:

E é! - dizia tentando acalmá-la, assumindo sua fraqueza, enquanto, por dentro, ainda culpava-a mais e mais pelos mares de tormenta para os quais arrastava-se, onda a onda, vento a vento... numa estranha busca, cheia de temores, pelo olho do furacão.

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