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terça-feira, 12 de julho de 2011

O Andarilho, parte 1.

O Andarilho
Parte I: A Caminhada
Pedro Penido

Esperou tanto tempo por lágrimas que nunca vieram. Caminhou solitário pelas ruas, e tragou do tempo, bebeu do luar. Tornou-se resto do tempo, à margem de suas visões. Inevitável como a morte, esquecido como a vida. Envelheceu ali, solitário numa multidão, entre bons amigos do passado e reflexos distorcidos de suas mais estranhas e monstruosas ambições.

Trovejou no temporal e silenciou-se ao amanhecer. Emudeceu nas terras tocadas e marcadas pelo sol imperador. Ali, pouco a pouco, misturou-se às ruas que trilhou. Deixou partes de sua alma no caminho e absorveu do caminho o pouco que ele, por si só, poderia oferecer. Sempre alheio à burocracia da vida e ávido por novas sedes e fomes. Sempre com os receios da infância e os medos da velhice. Sempre obscurecido em suas lembranças, povoadas de tantos vagos nomes.

Seguiu a trilha que lhe restara. Seguiu em frente, até não poder andar mais. Chegou à costa e ali, ante o mar que se apresentava, saltou na última nau que ainda existia. Olhou para trás... fitou a grande muralha verde que se estendia ali. Não chorou ou sequer se comoveu. Ergueu uma taça com sangue novo, brindou, gargalhou, virou-se para o mar e desapareceu.

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