Numa praia...

Numa praia...
Pedro Penido

Está nos grãos de areia duma praia a loucura de nosso tempo. Inconstante, inumerável, inconcebível, moldada ao traçar de nossos passos. Singela harmonia do chão que sustenta o peso das ondas, num misto de submissão e ousadia.

Cada grão, portador de sua loucura, ao infinito dos tempos, sempre sedento do mesmo mar, incapaz de erguer-se e o saborear. Cada grão, portador de suas próprias medidas, alicerce das mais vastas e belas praias alocadas nos abismos da imaginação.

Está nos grãos de areia duma praia a constância alucinante e lacerante de nosso tempo. Nossas bravatas arredias ante forças intermináveis, acá vindas do mar. Nossas ilusões de grandeza, mesmo aos infinitos, esmagados e arrastados, um a um, ou aos tantos e tantos, pelo traço do vento ou pelos braços do mar.

Somos tantos e todos. Todos tantos pintando paisagens no litoral. Modelados pelo caos da incompreensão. Modelados pela nossa única razão: sonhar!