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terça-feira, 24 de maio de 2011

Almas e Beijos no Pouso do Absurdo

Almas e Beijos no Pouso do Absurdo
Pedro Penido

Atravessei milhares de distâncias e eras até chegar a este boteco, na Estrada do Horizonte, em meio aos Ermos de Além Mais. Um lugar que reúne loucos e absurdos, bêbados e infames, em torno da mesma roda de tragos e doses, onde a própria Trama é tecida, traço a traço, alucinadamente.

O nome do lugar? Pouso do Absurdo! Reconfortante, não?

E sempre, acredite, me senti extremamente à vontade entre os que, como eu, estavam inundados de implosões, receios, medos e pecados. Ali, no meio do nada, por entre aqueles que até mesmo o Tempo evitava ou desconhecia, eu me sentia completamente aceito, justamente por poder criar e sorver meu manto de sombras e ainda gargalhar à vontade.

E foi numa noite fria, de temporal, que, feito anjo caído do céu, a mulher que escravizaria todas as almas daquele lugar, instantes depois, apareceu.

Lembro-me de uma guitarra flamejante e sutil desenhando suas curvas ardentes. Lembro-me de tragos finos e desmemoriados traçando seu olhar. E lembro-me também de escorrer veneno doce de seus lábios vermelhos e suculentos.

Ah... Que mal maior poderia haver? E por que evitá-lo? Males tão grandes assim devem ser assimilados, experimentados, levados ao limite! Em temporal todo verso é perigoso. Eu sabia disso... E, sinceramente, desejava isso. E foi então que ela, um anjo das trevas desenhado à razão do meu desejo, aproximou-se, tocou o seio, o lábio e beijou-me. E nos golpes de nosso beijo, senti-a quente e saborosa, vasta e maliciosa, pecado em carne e volúpia, luxúria em mares de tormenta.

Olhou-me nos olhos... Nos seus vi o fim do mundo em turvas águas negras. Ali pouco restava de um brilho pálido, que morria enquanto sua língua explorava os próprios lábios desejosos, inflamáveis. Um olhar morto para carne tão viva e quente, branca como a neve, delicada como uma rosa.


Tão bela e perigosa, desejada e desejosa. Nem todos podiam ver o que sua casca escondia. Era assim, dos luxuriosos e fracos, que ela vivia. Beijava-os... e os enlouquecia. Um olhar denso, intenso, imenso... Que enganava e destruia. Que ludibriava e seduzia. Que dominava e apodrecia.

Mas de tão absurda e deliciosa súcubo pude apenas me aproveitar. Ela era tola e eu apenas um verso louco em forma de homem. Logo ela iria notar: eu não tinha alma para saciar sua fome!

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