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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Ironias da Esquina

Ironias da Esquina
Pedro Penido

Na loucura da malha urbana
quem carrega a cruz é o capeta.

Quanto mais respiro a vida,
mais a vida me parece insana.

Nas travessias e vias dessa ida mundana
são uns nos céus e o resto, todo, na sarjeta.
 
 

Monstros e Flores

Monstros e Flores
Pedro Penido

Fosse eu monstro
e não sentisse.

A ignorância,
aquela bênção.

Mas não há limite
ou muralha qualquer
que afaste a loucura
do desejo-beijo
entre quem eu quero
e quem me quer.

Fosse eu monstro
e não sentisse.

Inerte, surdo
mudo e cego.

Mas limite não há
para quem ama
e se deixa amar.


quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Estranhamento

Estranhamento
Pedro Penido

Martela
a mente
doente
feito prego
incandescente.

Na janela
o mundo lá fora
em paisagem morta
mal nasceu já aflora.

E morrem...
O mundo martelo
e a paisagem doente!


domingo, 23 de janeiro de 2011

Sobre os Caminhos

Sobre os Caminhos
Pedro Penido

Muito tempo passa
e continuamos em buscas,
demandas, jornadas
cuja razão de ser já não mais é.

E, confusos,
nos iludimos,
nos convecemos,
que há razão,
que a busca existe,
que é preciso ter fé.

Mas...

É preciso admitir
que, em prol da busca,
tudo mais foi ignorado,
desconsiderado.

Até mesmo o tempo
se perdeu descontrolado.

A grande questão é:
e força? Você tem?

Admite o erro no caminho
e volta ou repensa o trajeto?

Ou apenas naufraga nas ilusões,
e segue o caminho proposto,
mesmo que o mundo tenha mudado
e ninguém mais reconheça seu rosto?

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Fio de Prata

Fio de Prata
Pedro Penido

Talvez esteja aqui,
nestas linhas,
o único caminho
que deve ser trilhado.

Nas montanhas,
entre ventos e mar,
rasgado.

Um fio de prata entre sonhos,
uma jornada sem destino ou traçado.

Talvez esteja aqui,
nestes traços,
o único horizonte
que vale a pena.

Cravado no além mar,
nas terras inimagináveis,
novo porto se apresenta.

Ver Pouco

Ver Pouco
Pedro Penido

Vejo pouco
e além.

Esperando,
esperando,
esperando.

E não sou louco
nem ninguém.

Versando,
versando,
voando.

Sinto...
pelo que não sou,
pelo que sou,
pelo que fui
e pelo que não serei.

Sinto...
pois assumo
que acima de tudo
vivi... senti... errei.


segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Entre Mundos

Reflexões do Mundo 1
por Pedro Penido

Se houvesse um mundo novo a ser criado, não descoberto, haveria uma batalha de deuses que consumiria ambas as realidades.

E na vastidão de novos parâmetros digitais, novidade seria o paradigma e limite seria o ponto de partida. E seriam milhares os deuses criadores, os deuses observadores e os deuses destruidores. Cada um, à sua maneira, levando suas criações ao limite, ao ápice de seus propósitos.

E uma batalha de proporções titânicas cobriria o novo mundo com restos, chamas e pó. E ali, dos ermos cravados na História, pelo duelo de vontades divinas, estariam os deuses sobreviventes, agora enfraquecidos pelo exercício frenético de suas vontades e forças. Agora seriam 'mortais' em um mundo cujas deidades são o pó da própria ruína.


A Legião dos Úrias, por Vinícius de Moraes

A Legião dos Úrias
por Vinícius de Moraes

Quando a meia-noite surge nas estradas vertiginosas das montanhas
Uns após outros, beirando os grotões enluarados sobre cavalos lívidos
Passam olhos brilhantes de rostos invisíveis na noite
Que fixam o vento gelado sem estremecimento.

São os prisioneiros da Lua. Às vezes, se a tempestade
Apaga no céu a languidez imóvel da grande princesa
Dizem os camponeses ouvir os uivos tétricos e distantes
Dos Cavaleiros Úrias que pingam sangue das partes amaldiçoadas.

São os escravos da Lua. Vieram também de ventres brancos e puros
Tiveram também olhos azuis e cachos louros sobre a fronte...
Mas um dia a grande princesa os fez enlouquecidos, e eles foram escurecendo
Em muitos ventres que eram também brancos mas que eram impuros.

E desde então nas noites claras eles aparecem
Sobre cavalos lívidos que conhecem todos os caminhos
E vão pelas fazendas arrancando o sexo das meninas e das mães sozinhas
E das éguas e das vacas que dormem afastadas dos machos fortes.

Aos olhos das velhas paralíticas murchadas que esperam a morte noturna
Eles descobrem solenemente as netas e as filhas deliqüescentes
E com garras fortes arrancam do último pano os nervos flácidos e abertos
Que em suas unhas agudas vivem ainda longas palpitações de sangue.

Depois amontoam a presa sangrenta sob a luz pálida da deusa
E acendem fogueiras brancas de onde se erguem chamas desconhecidas e fumos
Que vão ferir as narinas trêmulas dos adolescentes adormecidos
Que acordam inquietos nas cidades sentindo náuseas e convulsões mornas.

E então, após colherem as vibrações de leitos fremindo distantes
E os rinchos de animais seminando no solo endurecido
Eles erguem cantos à grande princesa crispada no alto
E voltam silenciosos para as regiões selvagens onde vagam.

Volta a Legião dos Úrias pelos caminhos enluarados
Uns após outros, somente os olhos, negros sobre cavalos lívidos
Deles foge o abutre que conhece todas as carniças
E a hiena que já provou de todos os cadáveres.

São eles que deixam dentro do espaço emocionado
O estranho fluido todo feito de plácidas lembranças
Que traz às donzelas imagens suaves de outras donzelas.
E traz aos meninos figuras formosas de outros meninos.

São eles que fazem penetrar nos lares adormecidos
Onde o novilúnio tomba como um olhar desatinado
O incenso perturbador das rubras vísceras queimadas
Que traz à irmã o corpo mais forte da outra irmã.

São eles que abrem os olhos inexperientes e inquietos
Das crianças apenas lançadas no regaço do mundo
Para o sangue misterioso esquecido em panos amontoados
Onde ainda brilha o rubro olhar implacável da grande princesa.

Não há anátema para a Legião dos Cavaleiros Úrias
Passa o inevitável onde passam os Cavaleiros Úrias
Por que a fatalidade dos Cavaleiros Úrias?
Por que, por que os Cavaleiros Úrias?

Oh, se a tempestade boiasse eternamente no céu trágico
Oh, se fossem apagados os raios da louca estéril
Oh, se o sangue pingado do desespero dos Cavaleiros Úrias
Afogasse toda a região amaldiçoada!

Seria talvez belo – seria apenas o sofrimento do amor puro
Seria o pranto correndo dos olhos de todos os jovens
Mas a Legião dos Úrias está espiando a altura imóvel
Fechai as portas, fechai as janelas, fechai-vos meninas!

Eles virão, uns após outros, os olhos brilhando no escuro
Fixando a lua gelada sem estremecimento
Chegarão os Úrias, beirando os grotões enluarados sobre cavalos lívidos
Quando a meia-noite surgir nas estradas vertiginosas das montanhas.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Os Teus Olhos

Os Teus Olhos
Florbela Espanca

O Céu azul, não era
Dessa cor, antigamente;
Era branco como um lírio,
Ou como estrela cadente.

Um dia, fez Deus uns olhos
Tão azuis como esses teus,
Que olharam admirados
A taça branca dos céus.

Quando sentiu esse olhar:
“Que doçura, que primor!”
Disse o céu, e ciumento,
Tornou-se da mesma cor!


quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Sonhos, A Escolha e o Corsário, parte 2.

Sonhos, A Escolha e o Corsário
parte 2 | Pedro Penido

Qual caminho escolher? Lançar-se à imensidão do mar revolto em estado de extasiante loucura ou aguardar o sono ser perturbado por qualquer variável do infinito?

Perseguido por um velejador de algum lugar distante de sua mente, Lok sabia que estava fazendo uma aposta, arriscando, jogando dados de faces incontáveis. Mas era uma boa escolha lidar com a sorte uma vez que lidar com o Capitão era bem diferente. Com ele podia-se entender que as chances de boas coisas acontecerem em um mar de coisas eram bem menores. Ele podia ordenar sua vontade, fato que lhe propiciava mais chances de seguir num determinado propósito. O Capitão era, talvez, tão absurdo quanto a própria idéia de toda essa situação.

E Lok lançou-se ao mar. Ondas que pareciam murmurar palavras estranhas, coisas que iam de odes aos lamentos, de brados heróicos a sussurros lamacentos. E o Capitão ainda enfrentou a tormenta em tentativas assustadoras de arpoar Lok em plento pranto. Mas o mar parecia não abrir mão do presente que lhe foi dado, e lançava ondas imensas contra o velho corsário. Seu próprio barco podia não suportar a fúria de sua vontade. E seem o barco, sem mar.

Lok nadou até não conseguir mais levantar os braços. Esperou a morte chegar. Afundaria ali como uma âncora. Mas... estranhamente... não chegava o tempo de afundar. Parecia que suas forças se esvaíam tão lentamente que ele parou de saber de si. Perdeu a noção do tempo, de seus limites, de sua dor. Continuava estando, sem ser em potência, sem ser o estalo que faz explodir tudo mais. Lok ficou inerte.

O Capitão já deixava a nau seguir o melhor caminho, em escapada de sorte do destino certo nas águas de um monstruoso mar misterioso. Mas com a nave rumando para um lado, ele fitava sua caça na outra extremidade. Como se tempestade nem sequer o incomodasse. A mesma tempestade que dava os braços a Lok numa dança macabra de cores e coros vezes urrando, vezes soprando levemente frações do instante.

Sonhos, parte 1

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Sonhos, parte 1

Sonhos,
parte 1. | Pedro Penido


Foram tantos os caminhos já atravessados que ele podia escolher. Encarava o absurdo daquela situação ou apenas fechava os olhos e esperava acordar?

Ciente habitante de seus próprios sonhos, Lok errava entre um e outro, do modo que viessem durante o sono. No começo tudo parecia um susto. Era como se, de repente, percebesse-se não como mero observador, ou mero propósito. Lok podia-se perceber como o ignição de seus próprios atos, como o verbo em absoluto, ainda no infinito, sem linhas que lhe traçassem e arrancassem, do estalo do instante, a própria razão de ser, seu propósito.

Estranho... Ele mesmo sabia que as coisas caminhavam com certa conveniência quando imerso em seus sonhos. Mas, mesmo neles a dor era quase palpável, mas suportável ante a sensação de estalo que jogava adrenalina em seu sangue, e fazia o corpo suar ou gelar, se espremer em tensão ou se alongar em explosão.

Essa sensação dava-lhe um reflexo de situações futuras, e tal qual a criança que aprende as dores das quedas, das chamas, dos cortes e procura evitá-los, Lok desenvolveu o instinto em potência: auto-preservação. Por razões óbvias ao seu propósito ou ao de seu estalo fomentador/formatador.


Sonhos, parte 2: A Escolha e o Corsário

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Reflexões sobre o Vento

Reflexões sobre o Vento
Pedro Penido

Vício
verso
vento.

Sim.

Tudo que sou.
Tudo que tento.

Sem medos,
sem lamentos.

Caçador de tempestades,
em versos insanos,
cheios de marasmo,
cheios de saudade.

Vício em verso em vento;
sem caminho certo repenso
as incoerências do tempo
e a precisão do sarcasmo.

Mas não cesse, vento!
Preciso sentir a vida.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Poesia Digital

 Para aqueles que duvidam da grandeza do ser humano:





Passageiros

Passageiros
Pedro Penido

Um "boa sorte" a todos os passageiros. E passageiro quem não é? Seja ao longo do dia, no calor e na loucura dos dos ônibus, trens e metrôs. Somos todos passageiros abaixo da coroa do sol imperador, do manto da lua inspiradora. Passageiros até mesmo para o amor (ou não?).

Passageiros...
Sempre com pressa, correndo o mundo inteiro. Atrás de nossos sonhos e de futilidades como o dinheiro. Incontroláveis, implacáveis, incorrigíveis. Sempre e sempre. Nunca no mesmo cais. Somos todos nós passageiros de tempos fantásticos e inesquecíveis... tempos que simplesmente não voltam mais!



segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Alucinadamente

Alucinadamente
Pedro Penido

Se soubéssemos das dores do amor
ainda assim, alucinadamente, amaríamos.

Pois é condição do homem
não opção
amar e se enlouquecer.

É necessidade do homem,
tal qual água,
o amor,
em variados aspectos,
em variados olhares.

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